Projeto S.O.S mata de araucárias!
08:35 | Author: Elder,Hortênsia,Joaquim,Letícia e Rodrigo
Essa é uma reportagem sobre um projeto pouco conhecido que tenta ao maximo preservar a mata de araucárias.

"Apesar da situação crítica, a Mata de Araucária continua mal protegida legalmente, sendo o Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina, uma das principais áreas de preservação. Na tentativa de corrigir essa falha, em 2002, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) criou um grupo de trabalho para propor medidas de preservação e recuperação desse ecossistema em Santa Catarina. Após um levantamento de onde estão e qual a situação dos remanescentes, "a conclusão foi que a floresta ombrófila mista está no fim e, se não for criada, imediatamente, uma série de unidades de preservação, corre-se um grande risco de perder esse ecossistema", explica Miriam, uma das coordenadoras do grupo. "Os raros remanescentes florestais nativos são de dimensões reduzidas, encontram-se isolados e com evidentes alterações estruturais".

A principal recomendação do estudo foi criar um corredor ecológico ligando as áreas remanescentes de Santa Catarina e do Paraná, através de unidades de conservação de proteção integral, associadas com Áreas de Preservação Ambiental (APAs) e Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIEs), onde as atividades econômicas são permitidas, mas devem seguir regras rigorosas.
Assim, ainda em dezembro de 2002, quatro áreas no Paraná e três em Santa Catarina foram consideradas áreas prioritárias para criação de unidades de conservação: Água Doce, Abelardo Luz e Ponte Serrada, em Santa Catarina, e, no Paraná, Tumeiras do Oeste, Candói, Palmas e Guarapuava, a maior delas, com apenas 120 mil hectares.

Segundo o biólogo João de Deus Medeiros, diretor do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), inicialmente as portarias suscitaram reações negativas em alguns setores, pois continham restrições severas ao cultivo de essências exóticas. Ao assumir o MMA, a ministra Marina Silva retirou as restrições de cultivo, mas manteve a idéia das unidades de conservação. E agora uma força tarefa, formada por técnicos dos governos federal e estaduais, universidades e ongs, trabalha contra o tempo para garantir que a proteção saia antes de as araucárias virem abaixo. Conforme João Paulo Capobianco, secretário de Biodiversidade e Florestas do MMA, até o fim do ano as unidades de conservação estarão definidas. "Mas o esforço não é só para criar áreas de preservação, e sim ter uma política para proteção do que sobrou e para recuperar a Mata de Araucária".

Criar áreas protegidas por lei, porém, não é suficiente para garantir a sobrevivência das araucárias, pois a qualidade dos poucos remanescentes está bastante comprometida. Em Santa Catarina, o único trecho onde as características estruturais da floresta ombrófila mista foram mantidas é Ponte Serrada, com 7.947 hectares. Os demais já estão muito alterados. "Em algumas matinhas praticamente não existe mais araucária. Há evidências que as principais madeiras, como imbuia, cedro e as canelas, também foram retiradas. Restou apenas o sub-bosque. Atualmente, mesmo incluindo os remanescentes comprometidos, não existe mais do que 0,5% de matas naturais desse ecossistema em Santa Catarina. No Paraná, as últimas estimativas falam em 0,8%, mas talvez esse número já esteja subestimado, pois o ritmo de desmatamento é alto", alerta Medeiros.

Para dar uma idéia da dimensão do problema, o biólogo conta que, apenas na última semana de junho, foram detectados 260 focos de desmatamento de ombrófila mista em Santa Catarina. Duas autuações em um só dia somavam 660 hectares derrubados. "Estamos diante de um impasse, pois a capacidade de reação do estado não é condizente com a situação", avalia.

Outra conseqüência do desmatamento acelerado é a perda genética das araucárias. Um estudo da UFSC, comparando os remanescentes primários de Mata de Araucária com as áreas exploradas, mostrou uma perda de mais de 50% na variabilidade genética destas. Pior, os madeireiros, ao entrar na mata, retiram as melhores árvores - maiores, mais retilíneas - e deixam para trás apenas os indivíduos inferiores. "Hoje, há locais onde até os piores espécimes também foram retirados. Por isso precisamos achar indivíduos superiores para funcionar como matrizes e usar técnicas de biotecnologia para recuperar as áreas", defende Medeiros.

A clonagem das araucárias pode acelerar essa multiplicação dos melhores indivíduos. Desde 1986, pesquisas nesse sentido são desenvolvidas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e, agora, os primeiros resultados começam a aparecer. "Há cerca de dois anos, conseguimos a primeira frutificação de uma araucária clonada, um indivíduo de 11 anos de idade, plantado em Criciúma", comemora o professor Flávio Zanette. "Neste ano, o primeiro pinheiro macho - clonado em 1988 e plantado no Parque Cachoeira, em Araucária, na Grande Curitiba - deu as primeiras flores".

Com esses dois clones, macho e fêmea, é possível fechar o ciclo reprodutivo da espécie. Mas ainda é preciso esperar 2,5 anos entre a formação do botão, a polinização e o amadurecimento do pinhão. "Com as plantas clonadas reproduzindo, entramos na última fase da pesquisa, que consiste em fazer cruzamentos dirigidos para melhorar os descendentes. Para isso, estamos contando com apoio da Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel), que nos cede as plataformas de manutenção de energia elétrica para subirmos até a copa das árvores. Vamos colher pólen em Lages, trazer para cruzar com a pinheira em Curitiba e fazer o trabalho antes realizado pelo vento", acrescenta Zanette. Toda essa manobra viabiliza casamentos antes impensáveis. Como uma agência de casamento, a biotecnologia é capaz de garantir os melhores noivos e noivas para árvores sem muita escolha em seu local de origem. Em que pese todo um passado predatório, o homem talvez assim consiga, quem sabe, reverter a erosão genética da exaurida araucária."

(Maura Campanili Revista Terra da Gente - Campinas,SP August 2004)

Postado por : Letícia Silva
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